Fundação Santo André faz expedição na região do Geopark Corumbataí

Nos dias 10 e 11 de julho, uma equipe multidisciplinar da instituição Fundação Santo André percorreu a região do Projeto Geopark Corumbataí, conhecendo diversos sítios naturais como cavernas, cachoeiras e afloramentos de rochas. A equipe, formada por 2 geógrafos, 3 químicos, 1 historiadora, se juntou ao geólogo Vanderlei Farias do Espeleogrupo Rio Claro (EGRIC) que os guiou durante dois dias de expedição.

O objetivo do roteiro foi fazer o reconhecimento do patrimônio natural da região para que os profissionais possam futuramente trazer grupos de universitários em viagens de estudo do meio. Os dois dias de campo foram suficientes para o grupo conhecer 6 sítios naturais, incluindo cavernas, cachoeiras, paisagens, pinturas rupestres e afloramentos rochosos.

No município de Ipeúna, o grupo visitou uma das maiores cavidades naturais da região, a Gruta do Fazendão. Nela, os participantes aprenderam mais sobre a geodiversidade e puderam também ver alguns impactos ambientais que a visitação sem controle pode causar.

Já no município de Analândia, os participantes conheceram a Toca do Índio, uma cavidade onde é possível observar pinturas rupestres estimadas em mais de 7 mil anos! São provas de que desde a pré-história, a região do Geopark Corumbataí atraiu populações humanas devido ao clima ameno e abundância de recursos naturais.

Para fechar com chave de ouro, a expedição terminou na Cachoeira do Escorrega, onde existe também um camping e restaurante. Além de se banhar nas águas das nascentes do Rio Corumbataí, também é possível a prática de boia-cross no local.

Posteriormente, o roteiro foi aplicado em um grupo de 18 alunos graduandos em geografia, com idades entre 19 e 55 anos. O resultado foi uma atividade de campo, multidisciplinar que se mostrou muito importante para desenvolver diversas habilidades e promover a troca de conhecimento entre os participantes.

Um artigo completo relatando todas as atividades e o conhecimento científico envolvidos na atividade foi publicado no Portal Expressão Geográfica: Serra do Itaqueri (SP) – A litologia e os paleoclimas na diversidade da paisagem geomórfica paulista e roteiros de natureza em atividades de aventura e ecoturismo

Pesquisadores em Geoconservação da UNESP Rio Claro visitam geossítios da região

No dia 9 de agosto, um grupo de pesquisadores em geoconservação da UNESP realizou trabalho de campo, visitando três importantes geossítios em Rio Claro e Ipeúna. Também participou da atividade uma pesquisadora visitante da Eberhard Karls Universität, localizada na cidade alemã de Tübingen.

Grupo de Pesquisadores em Geoconservação da UNESP Rio Claro e pesquisadora visitante da Universidade de Tübingen.

Durante o estudo, a graduanda Fernanda Bertuluci aplicou um método de análise de geossítios desenvolvido para seu Trabalho de Conclusão de Curso. A monografia produzida será um dos trabalhos científicos que contribuirá para o desenvolvimento do Geopark Corumbataí.

O primeiro geossítio visitado é um local de importância paleontológica, devido ao conteúdo fossilífero, e estratigráfica, devido à exposição de diferentes camadas de rochas da Bacia do Paraná. Durante a visita, o Prof. José Eduardo Zaine explicou que no dia seguinte o local seria novamente visitado para um treinamento em Mapeamento Geológico.

Fósseis encontrados em argilito do Membro Taquaral da Formação Irati.

O segundo geossítio se destacou inicialmente pela relevância hidrológica e beleza cênica, porém um olhar mais aprofundado revelou aspectos estruturais e tectônicos de extrema importância. Além dos valores científicos, o local também se destaca pelo potencial ecoturístico.

Confluência dos Rios Cabeça e Passa Cinco, cuja morfologia é condicionada por um dique de diabásio associado a movimentos tectônicos.

O terceiro geossítio visitado é um afloramento clássico da Bacia do Paraná na região. O nome “Afloramento das Três Eras” vem do empilhamento de camadas que se pode observar: na base, rochas da Formação Corumbataí (Era Paleozoica), sobre arenitos eólicos da Formação Pirambóia (Era Mesozoica), em contato erosivo com sedimentos recentes (Era Cenozoica), capeando toda a sequência.

Afloramento das Três Eras

Ao final dos trabalhos de campo, os pesquisadores discutiram sobre a rica geodiversidade encontrada na região, as potencialidades para o Geoturismo e a importância do desenvolvimento do Geopark Corumbataí. Os estudos realizados e a troca de informações entre os participantes foram muito proveitosos, auxiliando nas pesquisas do grupo e apresentando a região à pesquisadora visitante.

UNESP se reúne com representantes do Turismo de Ipeúna

No dia 9 de Agosto de 2017, uma comissão do Turismo de Ipeúna compareceu à UNESP de Rio Claro para uma reunião com o Grupo de Estudos em Geoconservação do Instituto de Geociências e Ciências Exatas.

Estiveram presentes membros da administração municipal e do Conselho Municipal de Turismo de Ipeúna, além de professores e pesquisadores da UNESP.

Durante o encontro, foram discutidas potencialidades e estratégias turísticas para o município de Ipeúna, que pleiteia o título de Município de Interesse Turístico (MIT) junto ao governo estadual.

Além de contribuir com informações a respeito das pesquisas realizadas na região, os membros do Grupo de Estudos em Geoconservação da UNESP, irão acompanhar a elaboração do Plano Diretor de Turismo de Ipeúna.

Os Impactos do Ecoturismo (Caso do Loteamento em Analândia)

Defendemos o ecoturismo como forma de desenvolvimento sustentável! Apesar deste ser um modelo de sucesso, incentivado inclusive pela Unesco, na prática, uma estratégia de crescimento turístico precisa ser muito bem planejada, pois pode também causar profundos impactos socioambientais.

Recentemente, um caso despertou a atenção nas redes sociais. Os moradores de Analândia (SP) notaram o início das obras de um loteamento na zona rural do município, bem próximo a dois importantes geossítios, os Morros do Cuscuzeiro e do Camelo.

 

Conforme já noticiamos anteriormente, Analândia está se tornando um point turístico. Dentre as importantes atrações geoturísticas, o Morro do Cuscuzeiro apareceu na abertura da novela “A Força do Querer” da Rede Globo e o destino rapidamente se popularizou, recebendo turistas de todo o Brasil! Naturalmente, a cidade tende a se expandir, gerando diversos impactos ambientais que devem ser identificados e controlados pelos órgãos públicos e empresas envolvidas.


Sobre o caso do loteamento, algumas considerações:

  • Loteamentos, em especial este, que está inserido em duas Áreas de Proteção Ambientais (APAs), devem seguir uma rigorosa legislação ambiental.
  • Segundo a Resolução da Secretaria de Meio Ambiente Nº 49, os empreendimentos potencialmente causadores de degradação ambiental devem apresentar ao órgão estadual (CETESB) um documento chamado Relatório Ambiental Preliminar (RAP). Neste documento, entre diversas outras obrigatoriedades, devem ser identificadas e mitigadas interferências sobre o patrimônio cultural e natural.
  • Antes mesmo de começar as obras, a empresa responsável deve requerer uma Licença Prévia (LP) e deve publicar este requerimento no Diário Oficial do Estado e em jornais locais e de grande circulação. Assim, qualquer cidadão tem o direito de contestar o empreendimento junto à CETESB.

Diante da positiva mobilização dos moradores de Analândia quanto à essa questão, ficam algumas sugestões:

  • Consultar as publicações dos requerimentos das licenças ambientais do loteamento junto ao Diário Oficial (a publicação não foi localizada durante a pesquisa para escrita deste artigo);
  • Analisar se as medidas mitigadoras dos impactos ambientais causados pelo empreendimento, propostas no RAP são satisfatórias;
  • Em caso contrário, pleitear a exigência de estudos mais aprofundados junto aos órgãos ambientais municipal e estadual.
  • Em última instância, recorrer ao Artigo 80 da Lei Orgânica de Analândia, e requerer uma consulta popular a respeito da instalação do loteamento.

Convém lembrar que o poder público tem a obrigatoriedade de zelar pela preservação do patrimônio natural. O órgão ambiental municipal tem a autonomia necessária para declarar uma área como de interesse ambiental, bastando para isto análises técnicas e vontade política.

Não é viável e nem recomendada a paralisação do desenvolvimento do município. Ainda assim, é possível mitigar os impactos causados pelo crescimento da cidade, diminuindo ou eliminando a poluição ambiental e assegurando o acesso universal à moradia, inclusive pela população mais carente.

Além das obrigações ambientais, que devem ser cumpridas pela empresa responsável pelo empreendimento, outras medidas podem ser adotadas neste sentido. Entre elas:

  • Arborização do loteamento e seu entorno, de forma a reduzir a poluição visual;
  • Utilização do IPTU progressivo para incentivar projetos de construção sustentáveis;
  • Destinação de parte dos lotes à habitação social com o intuito de reduzir os efeitos da gentrificação;
  • Adaptação do projeto urbanístico para que este contemple e valorize a cultura local.

Estas e outras medidas devem ser discutidas em conjunto pela sociedade. O poder público, além de fazer valer a legislação ambiental, pode atuar como mediador entre a população e a empresa, garantindo assim que a propriedade cumpra sua função social, de acordo com o Artigo 5º da Constituição Federal Brasileira. Somente assim, o ecoturismo será realmente eficiente como ferramenta de Desenvolvimento Sustentável e servirá de forma benéfica ao meio ambiente e às futuras gerações.

Parabéns Rio Claro – 190 anos! Ou seriam 11.000?

Hoje, 24 de junho de 2017, Rio Claro comemora 190 anos! Parabéns cidade querida!

Mas você sabia que existem evidências de povos ocupando a região 9.000 anos a.C.?!

Pinturas rupestres em caverna (Oliveira et al., 2015).

Os sítios arqueológicos da região de Rio Claro estão entre os mais antigos do estado de São Paulo! Aproximadamente uma centena deles foram encontrados em diversos municípios da Bacia do Rio Corumbataí. São vestígios de diferentes povos que habitaram estas terras milhares de anos antes da chegadas dos europeus na América!

A região começou a ser estudada em 1959 por cientistas da Faculdade de Rio Claro (Altenfelder, Miller Jr.). Os arqueólogos encontraram diversas evidências pré-históricas como: ferramentas (plainas, facas, raspadores, machados), pontas de flecha, artefatos de cerâmicas e artes rupestres.

Artefatos líticos (Zaine; Zaine; Perinotto, 1996).

As pesquisas concluíram que a região era uma área de ocupação e de passagem. Uma confluência de caminhos graças ao relevo suave e a abundância de recursos hídricos.

Também foram feitas observações a respeito das variações paleoclimáticas. Períodos secos estariam relacionados ao maior desenvolvimento de artefatos voltados à caça enquanto em períodos de maior umidade prevalecia o extrativismo vegetal, tornando ferramentas sofisticadas menos necessárias.

Infelizmente os sítios paleontológicos da região estão abandonados e não existe nenhum local preservado para fins educativos e culturais. É muito importante que estes sítios sejam resgatados e preservados pois são aspectos fundamentais da nossa identidade.

Veja abaixo uma reportagem sobre a arqueologia na região de Rio Claro:

Referências:

ARAUJO, A. G. de M. A arqueologia da região de Rio Claro: Uma síntese. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia n. 11, p. 125–140 , 2001.

OLIVEIRA, A.M.; FARIAS, V.; COELHO, R.C.S.; RODRIGUES, L.G; MIRANDA, P.R.A.. Novo registro de sítios arqueológicos em cavernas areníticas na região de Analândia, Estado de São Paulo. Anais do Congresso Brasileiro de Espeleologia, 33, 2015. p.13-20.

ZAINE, M. F.; ZAINE, J. E.; PERINOTTO, J. A. de J. Patrimônios naturais e história geológica de Rio Claro (SP) e região. Rio Claro: Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro, 2007. 64 p.