Na última sexta-feira (14/07/2023) uma equipe multidisciplinar, composta por pesquisadores da UNESP Rio Claro e Bauru e gestores públicos de Rio Claro, esteve presente na Voçoroca da Mãe Preta, geossítio do Projeto Geoparque Corumbataí, localizado em Rio Claro (SP), para uma atividade conjunta de interpretação e caracterização da paisagem. Assista ao vídeo da reportagem no final desta matéria.
O local é uma seção-tipo da Formação Rio Claro (cenozoica) onde ocorrem arenitos e argilitos com pequenos fósseis vegetais de cerca de 30 milhões de anos que contam uma longa história sobre a evolução geológica da paisagem. Atualmente, a área compreende toda a região de cabeceira do Córrego Mãe Preta, um pequeno afluente do Ribeirão Claro (manancial de abastecimento público do município).
O objetivo da atividade foi identificar e coletar dados sobre as potenciais áreas, trilhas e pontos de interesse do geossítio que apoiem a proposta de criação de um Parque Natural Municipal. A atividade faz parte de uma pesquisa de mestrado vinculada ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP Rio Claro que visa levantar subsídios científicos e políticos para propor a implementação de uma Unidade de Conservação Municipal com foco na proteção do geopatrimônio da Voçoroca da Mãe Preta e na valorização do espaço como uma área de lazer para a comunidade do entorno, mas que conta também com grande potencial científico e educativo.
Para isso, o projeto conta com a parceria de arquitetas do curso de Arquitetura e Paisagismo da UNESP Bauru, do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) e e também com o apoio fundamental da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro. Foram percorridos cerca de 600m de trilhas no interior da voçoroca e identificados atrativos do patrimônio geológico, paleontológico, hidrológico e biológico que evidenciam a relevância ambiental e científica da Voçoroca da Mãe Preta. Estar em contato com toda a bio e a geodiversidade presente foi fundamental para a discussão e proposição de ideias e possibilidades para o espaço.
Aproveitando a presença da equipe, a TV Claret, emissora local de Rio Claro, esteve de prontidão acompanhando todo o trabalho de campo e entrevistando os integrantes para compor uma matéria especial sobre o geossítio e todo o projeto que vem sendo desenvolvido, a ser exibida ainda essa semana. Assista ao vídeo abaixo:
O território do Projeto Geoparque Corumbataí está novamente em destaque na ciência mundial! A pesquisa que colocou o território em evidência, relata a utilização, pela primeira vez, do método de datação 210Pb para avaliar a taxa de crescimento de estalactites em cavernas de arenito. Esta inovação ajuda a consolidar a Província Espeleológica da Serra de Itaqueri como uma das mais importantes regiões de cavernas areníticas do país.
A publicação é fruto de pesquisas realizadas no Departamento de Geologia da Unesp Rio Claro. Os pesquisadores responsáveis são o Prof. Dr. Daniel Bonotto e o Geólogo André Ponce Figols, membro do Espeleo Grupo Rio Claro. Os dois cientistas utilizaram um método que é tradicionalmente utilizado para datar espeleotemas em cavernas de calcário. A inovação consistiu na adaptação do método para uso em cavernas de arenito, como é o caso das cavidades na região da Serra de Itaqueri.
Métodos de datação são ferramentas utilizadas por cientistas para determinar quando uma determinada estrutura foi formada, ajudando a entender a história do Planeta Terra.
A pesquisa foi relatada e publicada no Journal of Radioanalytical and Nuclear Chemistry, uma das principais revistas científicas internacionais de Geoquímica, fundada em 1968 e com alto fator de impacto.
Afinal, quanto tempo uma estalactite demora para crescer?
Segundo os resultados obtidos pelos pesquisadores, as estalactites analisadas possuem uma taxa de crescimento que varia entre cerca de 0,2 a 0,4 milímetros por ano. Isso significa que estalactites de aproximadamente 2 cm podem ter demorado de 60 a 100 anos para se formar. É importante ressaltar que essa não é a idade das cavernas como um todo mas apenas das estalactites.
Estalactites são estruturas que se formam no teto de cavernas devido ao gotejamento. Elementos químicos dissolvidos na água vão cristalizando e fazendo com que a estrutura aumente lentamente.
Assim, uma importante questão se apresenta: se as cavernas existem há milhares de anos, porque as estalactites encontradas possuem apenas algumas décadas? Será que o processo de formação dessas estruturas começou apenas recentemente? Ou será que, as que haviam foram destruídas por ação humana ou por processos naturais, como queda de blocos? Essas e outras perguntas são provocações para estimular futuras pesquisas no território.
Em conclusão, os resultados da pesquisa ajudam a contar a história dessas cavernas e também comprovam a necessidade de investigação e proteção do patrimônio espeleológico da Serra de Itaqueri. Ou seja, uma vez que estas frágeis estruturas podem levar séculos para se formarem, qualquer destruição terá um impacto muito alto.
A equipe do Projeto Geoparque Corumbataí parabeniza e agradece os pesquisadores e as instituições responsáveis por mais este importante estudo. Esperamos que o Geoparque seja um atrativo para novas pesquisas sobre o Patrimônio Natural da região. Dessa forma, buscamos um território rico, diverso e ético, onde o conhecimento seja a chave para que a sociedade se desenvolva de forma integrada ao ambiente.
Espeleologia é o ramo da ciência que estuda todos os elementos e processos ligados à formação e evolução das cavernas. Os elementos de maior valor são considerados parte do Patrimônio Espeleológico.
Durante os meses de janeiro e fevereiro de 2022, equipes de alunos e professores do curso de Geologia da Universidade de São Paulo, estiveram presentes no território do Geoparque Corumbataí. As visitas fazem parte da disciplina de Mapeamento Geológico de Terrenos Sedimentares, matéria indispensável para a formação de profissionais de Ciências da Terra.
Segundo o Prof. Dr. Paulo César Boggiani, coordenador da atividade, este evento representou a volta das atividades de campo após paralisação devido ao isolamento imposto pela pandemia de COVID-19. Graças à vacinação de todos os envolvidos, além do cuidado no uso de máscaras de proteção, a atividade foi realizada com muita segurança.
O treinamento foi realizada em duas etapas, a primeira ocorrida nos dias 31 de janeiro a 5 de fevereiro e a segunda durante os dias 12 a 17 de fevereiro. Com isso, as equipes passaram 12 dias percorrendo as principais rodovias e estradas rurais dos municípios de Charqueada e Ipeúna.
As atividades se concentraram em uma região do território conhecida no meio geocientífico como Alto Estrutural de Pitanga (ou Domo de Pitanga). Essa região é um dos principais geossítios do Projeto Geoparque Corumbataí por abrigar, em uma pequena área, grande parte da Geodiversidade e do Geopatrimônio da Bacia Sedimentar do Paraná no estado de São Paulo. Dessa forma, durante os 12 dias de mapeamento, os visitantes puderam conhecer formações geológicas que contam uma história de cerca de 300 Milhões de anos no passado.
Durante o treinamento, os alunos passaram por diversas dificuldades como sol forte, chuvas intensas, muito barro, além de longas horas de viagem e caminhada. Tudo isso enquanto aprendiam, investigavam e registravam toda a Geodiversidade do território para a confecção de relatórios e mapas. Depois do um longo dia de trabalho, as equipes ainda se reuniam no período da noite para passar a limpo as anotações feitas durante o dia e catalogar as amostras coletadas.
Além de conhecer e estudar a Geodiversidade do território por meio dos geossítios, os visitantes tiveram o privilégio de encontrar elementos muito raros do patrimônio geológico e cultural, incluindo um tronco de árvore fossilizado e uma ponta de flecha pré-histórica. Este material foi registrado e notificado aos especialistas de arqueologia para auxiliar em novas pesquisas científicas. Este é um importante exemplo de como o turismo científico colabora com o avanço do conhecimento do território.
O turismo científico também é um importante aliado no desenvolvimento sustentável do território. Com a participação de cerca de 100 pessoas, ao longo dos 12 dias de treinamento, a atividade colaborou com a geração de empregos e renda em serviços de transporte, hospedagem e alimentação. Para viabilizar o treinamento, a USP mobilizou uma grande frota de veículos e motoristas.
O Mapeamento Geológico de Terrenos Sedimentares é uma disciplina obrigatória dos cursos de Geologia e, além da USP, outras universidades como Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Goiás (UFG), entre outras, também usam o território do Geoparque Corumbataí como laboratório de treinamento.
Dessa forma, todos os anos, nossa região é anualmente visitada por centenas de estudantes, professores, técnicos e pesquisadores, que ajudam a consolidar o conhecimento científico e a trazer desenvolvimento para o território.
Fotos gentilmente cedidas pelo Prof. Dr. Paulo César Boggiani.
Modalidade tida como a mais recente entre os tipos de turismo de
natureza, o geoturismo vem ganhando espaço na pauta de pesquisas de algumas
universidades do país. E com um olhar bastante inclusivo. Agrega também aspectos
educacionais e culturais. É o caso do trabalho “Proposta de roteiros
geoturísticos para o município de Ipeúna-SP: Subsídios para o planejamento
turístico”, de Marina Ciccolin de Almeida.
O estudo foi apresentado como trabalho de conclusão de curso ao
Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), campus de Rio Claro, SP, para a obtenção do
grau geólogo. E faz um levantamento minucioso do potencial geoturístico do
município com vista ao desenvolvimento sustentável, à preservação do patrimônio
histórico e cultural e ao fomento à educação.
Com orientação do professor doutor José Eduardo Zaine e coorientação do mestre André de Andrade Kolya, ambos da Unesp Rio Claro, o trabalho foi apresentado à banca examinadora em dezembro de 2019, no anfiteatro da Biblioteca Unesp. Compuseram a banca, além do professor Zaine, o professor doutor Washington Barbosa Leite Júnior e o doutor Flávio Henrique Rodrigues.
Ao longo de um ano de trabalho de campo e bibliográfico, com auxílio de
sensoriamento remoto e cartografia, Marina Ciccolin elencou os pontos mais
pertinentes ao turismo natural e histórico/cultural no município. Com os dados
coletados e processados, chegou às 15 localidades mais representativas ao
geoturismo local, reunidas num mapa elaborado pela autora. Parte delas, aquelas
com turismo natural e entrada franqueada ao público geral, transformou-se em
uma proposta de roteiro tripartida.
O primeiro roteiro, chamado Caminho das Rochas, é voltado sobretudo à
comunidade científica e a estudantes universitários e de ensino médio. Olhar
para os quatro afloramentos ali presentes é vislumbrar um passado muito
distante, de eras como a Paleozoica e a Cenozoica ou do período Triássico. Sítios
arqueológicos e jazidas fossilíferas fazem parte do roteiro, onde é possível
encontrar fragmentos de ossos de mesossauros de cerca de 250 milhões de anos.
O segundo, denominado Caminho das Águas, contempla rios e cachoeiras. Tem forte apelo com a comunidade local e turistas que visitam a cidade em busca de recreação em suas águas. Nesse roteiro também se encontra um importante sítio arqueológico, com vários achados de origem lítica, como pontas de lança, raspadores e machados (datados de cerca de 11 mil anos).
Por fim, o Caminho da Natureza propõe uma abordagem geoecológica. Busca associar os aspectos da geodiversidade com os da biodiversidade. Chamam atenção aqui características marcantes do relevo, como as cuestas e os morros testemunho, e suas relações com as interações ecológicas. É a meca dos esportes off-road. Mas não só. Caminhada, observação de flora e fauna, pesquisa acadêmica… Versatilidade é a marca do Caminho da Natureza.
A profusão de roteiros justifica-se. Município do centro-leste do estado de São Paulo, Ipeúna se assenta em uma área de interface entre cuestas basálticas e a depressão paulista. Vem daí grande parte das belezas naturais e geológicas do entorno, com atributos espeleológicos, estratigráficos, geomorfológicos, paleontológicos, arqueológicos e ambientais.
É toda essa riqueza peculiar que faz de Ipeúna um dos oito municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí que dão forma ao Projeto Geoparque Corumbataí. A iniciativa de preservação do patrimônio natural, histórico e cultural com difusão do geoturismo conta ainda com o apoio da Unesp Rio Claro, da Unicamp e do Consórcio PCJ.
Em uma cidade com economia dependente da indústria, roteiros geoturísticos como esses podem ser o ponto de virada para o desenvolvimento de uma economia de caráter sustentável. E mais. Ao valorizarem e colocarem o patrimônio geológico na mira dos turistas, podem incrementar o comércio da cidade, contribuindo para a geração de renda e seu desenvolvimento.
Além disso, o trabalho tem outro mérito. Historicamente, costumamos negligenciar os aspectos abióticos em favor dos bióticos. Sobretudo quando o assunto é proteção ambiental. Como se pudessem ser desconectados ou se o segundo contivesse maior valor intrínseco. Ao dispor os elementos geológicos no centro da atratividade, da diversidade natural e da conservação, junto da fauna e flora, a autora nos ajuda a entender a amplitude e as potencialidades dos elementos geológicos e a importância da geoconservação.
Participação no evento envolveu um curso sobre criação de Geoparques, apresentações de trabalhos e fortalecimento dos laços com pesquisadores e instituições do Brasil e outros países.
Os participantes tiveram oportunidades de aprendizagem e trocas de experiência. Vários representantes de Projetos de Geoparques pelo Brasil estiveram presentes, possibilitando a integração e colaboração entre eles.
A participação no ProGEO foi muito proveitosa para o desenvolvimento do Geopark Corumbataí. A equipe agradece toda a comissão organizadora do evento. Graças às discussões e contatos realizados durante a semana, serão desenvolvidas diversas novas atividades no Projeto.